domingo, 23 de janeiro de 2011

~~A Calúnia de Apeles por Sandro Botticelli~~

 "A Cálunia de Apeles" - Sandro Botticelli, 1494-1495

          Como escrevi no meu post anterior, comecei a ler o livro 'Sangue e Ouro' da talentosa escritora Anne Rice. Neste livro, Marius, o misterioso vampiro, um Filho dos Milênios, conta um pouco sobre sua vida imortal ao longo dos séculos. O livro é cheio de fatos históricos e acende em nós, um enorme desejo por conhecimento.
          Ao longo do livro, Marius relata sua paixão avassaladora pelo pintor renascentista Sandro Botticelli, assim como pelas obras magníficas criadas por esse italiano. Isso me deixou extremamente curiosa e fui pesquisar algumas obras citadas no livro e que foram feitas por Botticelli. Porém, de todas as pinturas que eu vi, a que mais me chamou a atenção pela riqueza de detalhes e abrangência foi 'A Calúnia de Apeles' (La Calunnia di Apelle, em italiano), feita por Botticelli mais ou menos nos anos de 1494-1495. Essa pintura se encontra na Galeria de Uffizi em Florença, Itália.
          Eu encontrei uma boa descrição da obra em um site (http://anoeee.blogspot.com/2006/02/botticelli-e-calnia-de-apeles.html) brasileiro bem interessante. A pintura relata o julgamento injusto de Apeles. O rei/juiz está sentado no seu trono na extrema direita da pintura. Ele está cercado pela Ignorância e pela Suspeita, suas conselheiras mais íntimas que murmuram aos seus ouvidos palavras venenosas. Por isso, o rei apresenta orelhas de burro e o olhar fixo no chão, para não se envolver na cena a sua frente. A Inveja aparece diante do rei, acusadora, estendendo seu braço para alcançá-lo. Traz a Calúnia pela mão. Esta, segura uma tocha acesa como se viesse mostrar a luz a todos. A Malícia e a Fraude são suas companheiras e vivem para adornar com flores da pureza, os cabelos de sua senhora Calúnia, procurando disfarçá-la perante os olhos da humanidade. Apeles, localizado no meio da pintura, é representado por um homem inocente, sendo arrastado pelos cabelos pela Calúnia. Apeles está despido e de mãos juntas, apelando aos céus por uma justiça divina. Atrás deles, na parte esquerda da pintura, está o Remorso, uma velha mulher, que olha sorrateiramente para a Verdade. Esta, aponta para cima, remetendo à justiça divina, e aparece nua, como a deusa Vênus, sem nada a esconder, tal como Apeles. Todos os demais vestem roupas, ocultando assim suas verdadeiras naturezas.
     O que há de muito significativo para mim nesta pintura remete-se ao fato de seus incríveis detalhes. Toda a construção do palácio que cerca as figuras representadas na obra, tem desenhos de centauros, anjos, seres mitológicos nas mais variadas situações. É impressionante. Você fica praticamente perdido com tudo o que a pintura mostra. A cara de desdém da Calúnia com relação a Apeles é magnífica. Ela o puxa pelos cabelos com o mínimo de toque possível, como se fosse se sujar com o mais leve contato carnal. Porém, a figura mais impressionante, sublime e de poderosa magnificência é, sem dúvida, a Verdade. Para mim, a verdade é um ser assexual nessa obra. Com um corpo tanto feminino, quanto masculino. Com um olhar respeitoso e firme aos céus, pois ela acredita que realmente, no fim, será ouvida por todos.
          É simplesmente uma pintura primorosa. Quanto mais você olha, mais você acha. Poderia passar muito tempo a descrevendo aqui. Olhem com atenção para ela depois e espero que tenham a mesma sensação de êxtase que eu tive, que Marius teve e que muitos ao redor do mundo têm ao olhar para as belas obras de Botticelli.
      Como Marius disse sobre uma das obras de Botticelli: "Ah, quanta complexidade, quantas combinações inexplicáveis, quantos temas estranhos e, no entanto, cada rosto humano era tão impressionante, cada mão trabalhada com tanto esmero. Pensei que fosse enlouquecer só de olhar para aqueles rostos. Pensei que fosse enlouquecer só de olhar para as mãos. (...) sua pura beleza calava fundo em mim. Todos os meus anos de melancolia desapareceram como se um milhão de velas tivessem sido acesas nessa capela. (...)" (Sangue e Ouro, As Crônicas Vampirescas, Anne Rice).

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