quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Descobertas pessoais ao ler "O Vampiro Armand" de Anne Rice

     Cada dia que passa, os livros da Anne Rice me surpreendem mais. Quando eu achava que já tinha visto tudo o que podia sobre Céu e Inferno em 'Memnoch', ela vem com a mesma temática de uma forma um tanto quanto subjetiva em 'O Vampiro Armand'. É por isso que não podemos julgar uma pessoa pelo seu exterior e nem rotulá-la sem conhecê-la de um todo.
     Vampiros como sugadores de sangue? Só pra quem tem uma mente fechada e simplista. Os vampiros não podem ser 'classificados' assim. Não podem ser considerados somente parasitas que morrem ao não beber do sangue alheio. Os vampiros de Anne Rice são mais humanos que muitos humanos por aí. Eles amam e querem ser amados... não invejam o poder, as habilidades de uma pessoa e sim a capacidade que essa pessoa tem por estar viva, por poder se relacionar com os outros, por ser ela mesma, apesar de todos os seus limites mortais. O que não é um ser mortal do que uma mistura de ilusões, complexidades e imperfeições? E é na nossa imperfeição que os vampiros vêem a perfeição plena.
      Por que ao invés de tentarmos nos meter na vida dos outros, não olhamos pra dentro de nós mesmos? Cuidamos de nós mesmos? Por que não olhamos para o mundo a nossa volta com olhos vampíricos? Apreciando cada minuto que passa, cada folha que cai de uma árvore, cada movimento do bater da asa de um inseto, cada batida da água de um rio em uma pedra, cada sussurrar do vento em nossos ouvidos. Cada batida do coração de um ser próximo, celebrando o milagre da vida terrena enquanto podemos. Depois, só nos restará o conhecimento que levaremos conosco após nossa morte carnal. Um conhecimento precioso que devemos construir enquanto 'vivos'.
     A complexidade está em todas as coisas, em todo o conjunto que nos rodeia... os vampiros de Anne Rice se consideram monstros sim, abominações, porém, alguns deles tentam fazer o bem na medida do possível... uma forma de rendenção? Uma forma de salvação pra uma alma corrompida? Uma forma de adquirir o perdão por roubar a essência do outro? Não sei... cada um tem sua opinião a esse respeito. Todos nós não merecemos perdão? Por mais difícil e doloroso que isso seja?

(trecho de 'O Vampiro Armand', pg. 197, Volume 6 - As Crônicas Vampirescas, Anne Rice) "Eu deveria aproveitar a beleza luxuriante da pintura, da música e da arquitetura italianas, sim, mas faria isso com o fervor de um santo russo. Transformaria todas as experiências sensuais em bondade e pureza. Eu aprenderia, teria mais entendimento, mais compaixão pelos mortais à minha volta, e nunca deixaria de pressionar minha alma para ser o que eu julgava bom. O bem estava acima de tudo; o bem era ser gentil. Era não desperdiçar nada. Era pintar, ler, estudar, escutar, até rezar (...), era aproveitar qualquer oportunidade para ser generoso com os mortais que eu não matava. Quanto aos que eu matava, eles deveriam ser eliminados com misericórdia, e eu deveria me tornar o senhor absoluto da misericórdia, jamais causando sofrimento ou confusão, na verdade atraindo minhas vítimas ao máximo com encantos induzidos por minha voz doce ou pela profundidade de meu olhar comovente, ou por outro poder que aparentemente eu possuísse ou fosse capaz de desenvolver, um poder para entrar na mente do pobre mortal indefeso e assisti-lo na confecção de suas próprias imagens reconfortantes para que a morte se tornasse o bruxuleio de uma chama num êxtase, e depois o silêncio mais doce. Eu também me concentrava em gozar o sangue, em me aprofundar além da necessidade turbulenta de minha sede, para saborear esse fluido vital que eu roubava de minha vítima e sentir mais plenamente aquilo que vinha com ela para a morte definitiva, o destino de uma alma mortal."

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